“Não
precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos,
basta ter
coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.
Tem que
gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua,
do canto,
dos ventos e das canções da brisa. (…)
Não é preciso que seja de
primeira mão (…).” *
Um
dia, você está num quarto de hotel qualquer, de uma cidade qualquer,
de
um país qualquer que não o seu, e há uma janela que não dá direito a
uma paisagem bonita. Nessa cidade, onde você não conhece ninguém,
nem
tem vontade de conhecer, não há monumentos com história
que compense a
visita, nem restaurantes incensados
pelo Guia Michelin, nem uma praia
onde as pessoas
aplaudem o pôr-do-sol.
Nesse dia, nessa noite, nessa
hora você lembra-se dos seus.
“Os
seus”, interessa-me perceber melhor essa expressão.
Creio que “os seus”
pode incluir a família directa mas isso é redutor.
Há quem não tenha,
há quem tenha mas não se dá com ela,
há quem só goste dela quando longe.
Não vamos, pois, utilizar a família como régua para medir o
perímetro
exacto da pertença.
Há
os amores e os amigos. Se permitem-me, corto também
os primeiros da
equação. Apesar das suas quatro letras,
amor é palavra muito grande,
mexe com muita coisa,
nem sempre traz felicidade, para ser feliz é
preciso amar
e ser amado (o “ou” aqui não funciona).
Sobram
os amigos. Não, a frase soa-me inexacta.
Os amigos nunca deveriam
sobrar, nunca deveriam
ficar para o final, depois de todas as pessoas
importantes.
Amigos de segunda, amigos que não são prioritários,
são
amigos que não são.
“Procura-se
um amigo para gostar dos mesmos gostos,
que se comova, quando chamado
de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos,
de grandes
chuvas e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo para não
se enlouquecer. (…)” *
Um
dia desses, num quarto de hotel cheio de móveis e
vazio de emoções,
tive tempo para fazer umas contas
e dar nomes e caras e corpos e vozes e
jeitos e defeitos
e manias e qualidades e risos e choros a cada um
dos
amigos a quem posso chamar de “meus”.
O dia da Amizade poderá ser celebrado, em pleno, hoje, 30 de Julho.
Nem acho importante as datas e efemérides.
Só peço que não fique a espera de uma noite triste
para lembrar (ligar, mandar um mail, um SMS, um postal,
uma mensagem, este texto, sei lá eu) a quem deseja que os
seus dias sejam felizes.
“Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. (…) Para ter-se a consciência de que ainda se vive”.
Ou como diria o meu Tio Olavo, citando um filósofo: “O que é um amigo? Uma única alma que habita dois corpos”.
Edson Athayde
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