segunda-feira, julho 30, 2012

Tu aí, meu amigo

“Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, 
basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. 
Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, 
do canto, dos ventos e das canções da brisa. (…) 
Não é preciso que seja de primeira mão (…).” *
Um dia, você está num quarto de hotel qualquer, de uma cidade qualquer, 
de um país qualquer que não o seu, e há uma janela que não dá direito a
uma paisagem bonita. Nessa cidade, onde você não conhece ninguém, 
nem tem vontade de conhecer, não há monumentos com história
que compense a visita, nem restaurantes incensados 
pelo Guia Michelin, nem uma praia onde as pessoas 
aplaudem o pôr-do-sol. 
Nesse dia, nessa noite, nessa hora você lembra-se dos seus.

“Os seus”, interessa-me perceber melhor essa expressão. 
Creio que “os seus” pode incluir a família directa mas isso é redutor. 
Há quem não tenha, há quem tenha mas não se dá com ela, 
há quem só goste dela quando longe. 
Não vamos, pois, utilizar a família como régua para medir o 
perímetro exacto da pertença.
Há os amores e os amigos. Se permitem-me, corto também 
os primeiros da equação. Apesar das suas quatro letras, 
amor é palavra muito grande, mexe com muita coisa, 
nem sempre traz felicidade, para ser feliz é preciso amar
e ser amado (o “ou” aqui não funciona).
Sobram os amigos. Não, a frase soa-me inexacta. 
Os amigos nunca deveriam sobrar, nunca deveriam 
ficar para o final, depois de todas as pessoas importantes. 
Amigos de segunda, amigos que não são prioritários, 
são amigos que não são.

“Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, 
que se comova, quando chamado de amigo. 
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, 
de grandes chuvas e das recordações de infância. 
Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer. (…)” *
Um dia desses, num quarto de hotel cheio de móveis e 
vazio de emoções, tive tempo para fazer umas contas 
e dar nomes e caras e corpos e vozes e jeitos e defeitos 
e manias e qualidades e risos e choros a cada um 
dos amigos a quem posso chamar de “meus”.

O dia da Amizade poderá ser celebrado, em pleno, hoje, 30 de Julho. 
Nem acho importante as datas e efemérides. 
Só peço que não fique a espera de uma noite triste
para lembrar (ligar, mandar um mail, um SMS, um postal, 
uma mensagem, este texto, sei lá eu) a quem deseja que os 
seus dias sejam felizes.

“Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. (…) Para ter-se a consciência de que ainda se vive”.
Ou como diria o meu Tio Olavo, citando um filósofo: “O que é um amigo? Uma única alma que habita dois corpos”.
Edson Athayde

Sem comentários:

Enviar um comentário

Vá!, comente, deixe um abraço, se achar que preciso. Opine sem medos. Diga asneiras se achar que precisa.