O António é que a sabia toda

há aquela música do antónio variações,

'Muda de vida se tu não vives satisfeito.
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar. '

o grande problema nesta música é a dificuldade que
todos nós temos na mudança.

Embora toda a gente almeje a mudança, e queira
sempre algo de diferente, a inércia de se fazer qualquer
coisa atinge-nos tal qual tijolo que cai perdido de uma obra qualquer.

E pronto(S). ficamo-nos por ali mesmo. A fazer o que o
comum português faz. Convida uns amigos para um jantar,
cria um blog, vai para o café, whatever, mas sempre com
o real intuito de falar mal da vida, culpar o vizinho, e
culpa o governo - que, apesar das muitas culpas que lhe
podemos atribuir, meia volta leva com culpas que não têm
 a ver com ele - mas pronto(S) o português é assim.
gosta de se lamentar, diz umas piadas, toda a gente se ri,
depois levanta-se e vai para a vida que odeia.

Eu tenho inveja de tudo isto. Eu queria ser assim.

Quando a inércia se instala em mim.
A Vida, faz o favor de mudar por mim.
E, um belo dia acordo com uma baldada
de água cheia de gelo para me abrir a pestana.

Tenho ali sentada ao fundo da cama a minha Vida,
com o calendário numa mãozita e na outra, um relógio que faz tic-tac.
(que me relembra que aquele ruído não me era estranho de todo)

E diz-me com um tom todo animado:  'ora bem ana, está na hora!!
já se passaram 3 anos, vamos mudar! anda, anda!! bora!!!'
e eu reclamo. e eu esperneio. atiro-me para o chão. choro. lamento-me.

e ela [a Vida] ali fica uns tempos à espera que eu me levante.
como a Vida já me conhece, sabe que o chorar, o rebolar-me
no chão, equivale a deitar tudo para fora. Mágoas, medos,
indecisões que ao longo de 3 anos se foram instalando.

E sabe que depois de eu deitar tudo fora, já tenho espaço
para encher o peito de ar novo e avançar com ela.

Feita toda a fita, digna de ser filmada para se por no Facebook,
lá me levanto, limpo toda a ranhoca, aproveito ali uns cubos de gelo
que passo nos olhos, encho o peito de ar, e digo o que disse quando
me obrigaram a fazer Slide 'olha, que se foda' e atiro-me.

então até daqui a 3 anos hein?! diz ela toda contente, faz uma
bolinha no calendário, dá corda no relógio, e lá vai ela.
eu ia dizer à sua vidinha. mas não sei o que ela faz sem mim.

e talvez eu seja uma sortuda, porque tenho esta hipotese de
fazer diferente, e sei que faço.
não é por eu ser optimista, mas apenas porque sou assim.

Elle, a paz. acho que vem aí.