A velha arte de "dar a volta"

Hoje em dia, com a emancipação da mulher, os feminismos, os machismo, a liberdade de expressão e todos os eventuais afins ou qualquer outra coisa que possa passar-vos pela cabeça, os casais (e, em especial, as mulheres) perderam a capacidade de "dar a volta" ao marido/mulher/namorado(a)/amante (riscar o que não interessa).

Hoje o que está na moda é a "frontalidade" e a "capacidade de assumir o que queremos" e etc...

Agora, imaginem uma situação com o vosso marido/mulher/namorado(a)/amante (riscar o que não interessa), na qual estão a transmitir-lhe que querem algo que o outro não quer. E têm duas formas de o fazer:

Hipótese A:
- Hoje quero passear à beira-mar, de mãos dadas contigo.
- Não querida, não pode ser. Hoje há um jogo de futebol muito importante e até já combinei com o Zé Manel que íamos vê-lo à tasca, beber umas cervejas e comer uns tremoços
- Não. Vamos até à praia. Vá lá... Quero um fim de tarde romântico...
- Já te disse que hoje não. Fica para outro dia.
- MAS TU ÉS PARVO? ESTÁS A QUERER DIZER QUE O FUTEBOL É MAIS IMPORTANTE QUE EU?
- EH PÁ! QUE CHATA! TEMOS A VIDA TODA PARA IR À PRAIA!

Claro que isto vai acabar mal. Ele vai ver o jogo à tasca com o Zé Manel depois de uma discussão muito feia e ela vai ficar em casa furiosa, ou a chorar, ou a ligar à mãe a lamentar-se (a mãe, que aproveita logo para dizer que sempre soube que ele era um traste).


Hipótese B:
- Sabes querido, hoje gostava de ir passear à beira-mar, de mãos dadas contigo...
- (Ele responde com a mesma frase) Não querida, não pode ser. Hoje há um jogo de futebol muito importante e até já combinei com o Zé Manel que íamos vê-lo à tasca, beber umas cervejas e comer uns tremoços.
- Eu sei. Nem me passava pela cabeça pedir-te que não visses o jogo... Só te estou a dizer porque me passou a ideia pela cabeça...
- E não te importas que eu vá ver o jogo com o Zé Manel?
- Oh, não, claro que não! Afinal, já combinaste. E eu só quero que estejas bem e te divirtas. Era lá capaz de te pedir para não ires ao jogo...
...
- Sabes, és uma mulher muito especial!
- Oh, não exageres...
- És, sim. Qualquer outra no teu lugar estaria a fazer uma peixeirada porque eu preferia ver o jogo a estar com ela.
- Mas eu percebo... Temos a vida toda para passear à beira-mar, não é, querido?
...
...
...
- Sabes, se calhar vou ligar ao Zé Manel... O jogo até nem é muito importante. Era mais pelos copos... Mas temos a vida toda para ir para a tasca ver futebol...


Na verdade, a hipótese B dá muuuuuuuuito mais trabalho! Mas, no fim, não há discussões, todos ficam felizes e ninguém se sente na obrigação de fazer o que quer que seja.

No fim, ambos vão dar o seu passeio de fim de tarde, de mãos dadas, à beira-mar! E, se tudo correr bem, ainda acabam a ter sexo nas dunas!

"Dar a volta" dá mais trabalho do que "ser frontal", mas pensem bem... "Dar a volta" pode ser uma prova de amor pelo outro; pode demonstrar que gostamos tanto do outro, que nos damos ao trabalho de o fazer desejar uma coisa (que apenas por mero acaso nós também desejamos) que o outro PENSA que não deseja!

Por favor, não confundir com manipulação!...